quinta-feira, 19 de janeiro de 2012

A estranha sensação

O bar estava ficando vazio. Ele estava meio tonto, perdido. Perdido era a característica mais atribuída à ele ultimamente. Ele sentia um medo enorme do futuro, uma vontade enorme de sair correndo para o colo da sua mãe e pedir pra ficar lá para sempre. E ri de si mesmo. Eu estou bêbado, pensa. E tem uma enorme vontade de chorar. Pede outra dose. Uma menina se aproxima. Cabelos loiros, alta. Parece com a Laura, sua Laura. Você parece a Laura, ele diz. Ela olha pra ele e ri. Sou quem você quer que eu seja hoje, disse ainda sorrindo para ele. Ele sorri de volta, mas ela não era a Laura. Você não é a Laura, teve esse cara, um cara que tinha bebido demais, e aí ele tava voltando pra casa, depois de uma festa ou algo assim, e a Laura tava vindo do trabalho, ele a matou num acidente, e eu tenho a estranha sensação de que ela não vai voltar, ele diz e começa a chorar. Ela o olha assustada, e olha para baixo. Está chorando, ele pensa. Ela esta comovida com sua história. Ele se aproxima. A menina que parecia com a Laura, mas não era a Laura coisíssima nenhuma, está escrevendo seu número de telefone, e não está chorando. Ela entrega o papel à ele. Ei, entrega àquele cara, sentado na mesa 5, diz. Ele está surpreso. Surpreso não, está magoado. Magoadíssimo. Ele havia decidido, segundos atrás, que gostava muito da menina parecida com a Laura, e agora ela está flertando enquanto ele fala. Ele amassa o papel e joga nela. Não quer nem saber, não gosta mais dela e quer magoá-la tanto quanto ela havia magoado-o. Eu não gosto mais de você, diz. Deixa o dinheiro que pensa ser o suficiente na mesa e sai do bar. A noite o espera, a vida o espera. O futuro sem a Laura esta ali, abraçando-o, e ele sorri com o vento em seu rosto. Cambaleia até um táxi. Acaba de salvar a vida de uma outra Laura, que pertence a outro Gustavo. Sente-se bem por isso.

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